terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A ARTE DE SER BOA COMIGO MESMA

REGINA BEZERRA CARVÃO


Após leitura reflexiva do livro “Bem Querer : A arte de ser bom consigo mesmo” Wunibald Müller – Editora Vozes o entendimento que ficou para mim, é o seguinte:

Ser boa Comigo mesmo :
Citação : “Como haveria de ser se eu descobrisse que sou eu mesmo quem precisa da esmola de minha bondade, que sou eu mesmo o inimigo que deve ser amado.”
C.G.Jung

Reflexão : Ser boa comigo não significa ser egoista, é estar preparada para ser boa com o “outro”. Só exercendo a bondade comigo mesma serei capaz de distribuí-la.
Para ser boa comigo mesma tenho que me fazer presente em mim de forma verdadeira. Estar inteira, atenta em todos os contatos com o “outro”.

Ser boa como terapeuta :
Citação : “Aquele que quiser retirar seu amigo do poço ou da lama. Tem ele próprio que entrar no poço ou na lama, para que possa retirá-lo de lá. Para evitar que ele próprio afunde, precisa antes amarrar uma corda em torno de si.”
Conto dos Chassidim (Contos Hebreus)

Reflexão : Em todas as profissões de ajuda faz-se necessário manter o equilíbrio entre distância e proximidade. Não se deve ser tão distante ao ponto de se tornar insensível aos anseios do “outro” e nem tão próximo ao ponto de não conseguir cuida-lo .

Ser boa como educadora :
Citação : “Embora o egoísmo seja natural às pessoas e se manifeste por si mesmo, a aceitação de si próprio não o é. O primeiro (o egoísmo) tem que ser superado, a segunda (a aceitação de si próprio) tem que ser encontrada.
Não resta dúvida que um dos erros mais funestos dos educadores e moralistas cristãos consistiu em haverem confundido os dois, em muitas vezes terem descartado o sim a si próprio, com isto não conseguindo outra coisa senão reforçar o egoísmo, como vingança da negação de si.”
Joseph Ratzinger ( Papa Bento XVl)

Reflexão : O educador deve colocar especial atenção no encontro entre ele e o educando, que é a pessoa para quem ele é o protagonista, evitando se preocupar demasiadamente com sua imagem e com a manutenção da admiração do “outro”.
Esta vaidade prejudica o estar presente por inteiro de forma espontânea acolhendo o educando em suas necessidades.

Ser boa atuando nas Organizações :
“Se restringes toda tua vida e toda tua experiência à atividade, sem que reserves nenhum espaço para a reflexão, deveria eu louvar-te? Nisto eu não te louvo. E acho que ninguém irá louvar-te se tiver conhecimento desta palavra de Salomão : “A sabedoria se obtém nas horas de lazer”.
Bernardo de Claraval (São Bernardo)

Reflexão : Amor e Trabalho segundo Freud são as principais características de uma vida saudável. Mas há que se dar o tempo necessário ao desenvolvimento de cada uma destas características.
É preciso que se dê ao amor – representado pelos nossos afetos, prazeres e criatividade – um tempo especial, pois é para ele que retornamos ao terminar nosso trabalho – representado por nossas obrigações e responsabilidades.
A característica do amor tem que estar muito fortalecida para nos acolher em todos os nossos retornos e nos confortar enquanto nos ocupamos de nossos trabalhos.

Concluindo, considero necessário que todos os contextos analisados sejam observados sob a ótica da citação de Karl Valentin :
“HOJE EU VOU ME VISITAR. TOMARA QUE EU ESTEJA EM CASA.”

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

SOBRE MISTÉRIOS ....

REGINA BEZERRA CARVÃO


E precisa de mais alguma coisa ?
Os mistérios me ocupam inteiramente, cada centímetro da minha superfície é mistério.
Por dentro e por fora eles me engolfam e me afogam.
O tempo, o espaço, o humor, o amor e todos seus contrários... tudo é mistério.
E não adianta explicações, porque ao final esbarra-se mais uma vez no intransponível.
Que me adianta planejar, querer, imaginar se a magia sem controle que abre o coração dilacera a possibilidade da compreensão?

domingo, 8 de novembro de 2009

DE PORTO NOVO AO RIO

REGINA BEZERRA CARVÃO

mate gelado do rei do mate
caramelos do d´angelo
croquete do bar do alemão
batata frita de petrópolis
comidinhas para alma
que me remetem ao passado
que me remetem a infância
despertam o encantamento
que me assaltava nas minhas pequenas viagens a caminho do mar

DESCANSO DA PALAVRA

REGINA BEZERRA CARVÃO

silêncio
pausa
descanso da palavra
o som do mundo lá longe
o som do respirar pertinho
paz
lucidez
silêncio
pausa
descanso da palavra

BUENOS AIRES PUERTO DE SANTA MARIA

REGINA BEZERRA CARVÃO


argentina
buenos aires
puerto de santa maria
só as palavras me comovem
argentina
buenos aires
puerto de santa maria
vôo nas asas do eletrotango
argentina
buenos aires
puerto de santa maria
sin tristezas
sin dolor
sin alegría

A CAMINHO DO MEU RIO...

REGINA BEZERRA CARVÃO

AEROPORTO

vale! tudo vale!
o céu azul
o bife insosso
as pessoas estranhas
os olhares furtivos
as batatas sem sal
o arroz soltinho
o amor escondido
o deserto em frente ...

À BORDO

O que me importa de fato
não é a biografia
muito menos as radiografias
o que me importa de fato é a ficçao
o inventado
o criado
o incerto e o duvidoso
os relatos reais?
no momento são despresíveis


DECOLANDO

tudo fez e de tudo cuida
é preciso distância para vermos o quanto tudo está bem organizado
os prados, os montes, as varzeas, as campinas
a variação dos verdes, os desenhos das estradas, dos caminhos, das picadas, dos lagos, o serpenteado dos rios
à distância, todas as casas são casinholas, somos todos iguais
aqui e ali uma nuvenzinha esgarçada, outra compacta
todas a prometer a maciez do algodão ....


VOANDO

barquinho azul para iemanjá na imensidão azul do mar
pequenino
me parece de brinquedo
mas é um barco de verdade que cabe homens e peixes
assim como o barquinho azul para iemanjá me parece de brinquedo
as questões, dificuldades e problemas vistos na imensidão da distância
também passam a ser questõezinhas, dificuldadezinhas, probleminhas...


A CHEGADA

tem teto?
não, não tem teto
mas sem teto é bom, sem barreiras para descer
céu de brigadeiro não acho bom
brigadeiro não é marron?
dizem que não ...


ATERRANDO

o sol batendo no meu rosto
pairo acima das nuvens num delicado balanço
abaixo uma neblina forte
tudo fechado, tempo nublado
mas aqui acima das nuvens estou envolta num tule branco
e agora o branco se dissolve e eu vejo o rio de janeiro
sempre bonito faça chuva ou faça sol

EM CASA

a enseada é jóia rara, forma um anel
no círculo redondinho do anel uma pedra fumê é o pão de açucar
cristais citrinos são o morro da urca iluminado...
o círculo redondinho polvilhado de água marinha azulzinha é o mar da enseada
com é belo este rio da luz, rio das flores, rio dos meus amores
rio dos encontros e desencontros
rio tão cantato, exaltado, mal falado, maltratado
rio soberano, antena do brasil
tambor que ressoa nos 4 cantos

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

PREGUIÇA DE SOFRER

ZUENIR VENTURA

Há 26 anos, elas cumprem uma alegre rotina: às sextas-feiras pela manhã sobem a serra e descem aos domingos à tarde, quando não permanecem a semana toda lá, em sua casa de Itaipava, distante hora e meia do Rio.

São quatro irmãs de sobrenome Sette - Mily, a mais velha, de 86 anos; Guilhermina (84), Maria Elisa (76) e Maria Helena (73) - mais a cunhada Ítala (87), a prima Icléa (90) e a amiga de mais de meio século, Jacy (78). O astral e a energia da "Casa das sete velhinhas" são únicos.

Elas cuidam das plantas, visitam exposições, assistem a shows, lêem, jogam baralho, conversam, discutem política, vêem televisão, fazem tricô, crochê e sobretudo riem. Só não falam e não deixam falar de doença e infelicidade. Baixaria, nem pensar.

Quando preciso tomar uma injeção de ânimo e rejuvenescimento, subo até lá, como fiz no último sábado.
Já viajamos juntos algumas vezes, como a Tiradentes, por cujas redondezas andamos de jipe, o que naquelas estradas de terra é quase como andar a cavalo. Tudo numa boa. Elas têm uma sede adolescente de novidade e conhecimento.

Modéstia à parte, são conhecidas como "As meninas do Zuenir". Me dão a maior força.
Quando sabem que estou fazendo alguma palestra no Rio, tenho a garantia de que a sala não vai ficar vazia.
São meu público cativo e ocupam em geral a primeira fila. Numa dessas ocasiões, com a casa cheia, elas chegaram atrasadas e fizeram rir ao se anunciarem a sério na entrada: "Nós somos as meninas do Zuenir".

Nos conhecemos nos anos 70, quando morávamos no mesmo prédio no Rio e Maria Elisa, que é química, passou a dar aulas particulares de matemática para meus filhos, ainda pequenos, de graça, pelo prazer de ensinar.

Depois nos mudamos, continuamos amigos e nossa referência passou a ser a casa de Itaipava, onde minha mulher e eu temos um cantinho, um pequeno apartamento na parte externa da casa, os "Alpes suíços".
No começo, o terreno não passava de um barranco de terra vermelha. Hoje é um jardim suspenso, com árvores e flores variadas que constituem uma atração para os pássaros. Dessa vez, não cheguei a tempo de ver a cerejeira florida, mas em compensação assisti a uma exibição especial de um casal de papagaios. O interior da casa é um brinco, não fossem elas meio artistas, meio artesãs, todas muito prendadas, como se dizia antigamente.

Helena e Jacy, por exemplo, tecem mantas e colchas de tricô e crochê que já mereceram exposições.
Mily desafia a idade preferindo as novas tecnologias e a modernidade, sem falar no vôlei, de que é torcedora apaixonada. Sabe tudo de computador e, com Jacy, frequenta todos os cursos que pode: de francês a ética, de inglês a filosofia.

Na parede, Tom Jobim observa tudo. A foto é autografada para Elisa, de quem ele foi colega no Andrews.
Aliás, nesse colégio da Zona Sul do Rio, Guilhermina trabalhou 53 anos, como secretária e professora de Latim, que ela ensinava pelo método direto, ou seja, falando com os alunos. Ficou muito feliz quando na praia ouviu, vindo de dentro do mar, o grito de alguém no meio das ondas, provavelmente um surfista: "Ave, magister!".

Amiga de personagens como o maestro Villa-Lobos, ela ajudou ou acompanhou a carreira de dezenas de jovens que passaram por aquele tradicional colégio, cujo diretor uma vez lhe fez um rasgado elogio público, ressaltando o quanto ela era indispensável ao educandário. No dia seguinte, ela pediu as contas, com essa sábia alegação:
"Eu quero sair enquanto estou no auge, não quando não souberem mais o que fazer comigo".

Foi para casa e teve um choque, achando que não ia suportar a aposentadoria. Durou pouco, porque logo arranjou o que fazer. É tradutora e gosta muito de etimologia: adora estudar a vida das palavras desde suas origens, principalmente quando são gregas. Ah, nas horas vagas faz bijuterias.

Para explicar como se desvencilhou do vazio de deixar um emprego de 53 anos e começar nova vida já velha, Guilhermina usou uma frase que se aplica a todas as outras seis velhinhas e que eu gostaria de adotar também:
- "Tenho preguiça de sofrer".
Não são o máximo as meninas do Zuenir?

"Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional" (Roberto Shinyashiki)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ESSA IDÉIA BEM QUE PODIA VIRAR MODA......

RODRIGO RATIER (rodrigo.ratier@abril.com.br)

REVISTA NOVA ESCOLA
Edição 221 | Abril 2009
Vale mais que um trocado

Ambulantes, pedintes e moradores de rua não esperam só por dinheiro dos motoristas parados no sinal vermelho. Sem pagar pra ver, eu vi ...

CAMINHO LIVRE A cada livro oferecido em vez de esmola, um leitor descoberto.

"Dinheiro eu não tenho, mas estou aqui com uma caixa cheia de livros. Quer um?" Repeti essa oferta a pedintes, artistas circenses e vendedores ambulantes, pessoas de todas as idades que fazem dos congestionamentos da cidade de São Paulo o cenário de seu ganha-pão. A ideia surgiu de uma combinação com os colegas de NOVA ESCOLA: em vez de dinheiro, eu ofereceria um livro a quem me abordasse - e conferiria as reações.

Para começar, acomodei 45 obras variadas - do clássico Auto da Barca do Inferno, escrito por Gil Vicente, ao infantil divertidíssimo Divina Albertina, da contemporânea Christine Davenier - em uma caixa de papelão no banco do carona de meu Palio preto. Tudo pronto, hora de rodar. Em 13 oferecimentos, nenhuma recusa. E houve gente que pediu mais.
Nas ruas, tem de tudo. Diferentemente do que se pode pensar, a maioria dessas pessoas tem, sim, alguma formação escolar. Uma pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, realizada só com moradores de rua e divulgada em 2008, revelou que apenas 15% nunca estudaram. Como 74% afirmam ter sido alfabetizados, não é exagero dizer que as vias públicas são um terreno fértil para a leitura. Notei até certa familiaridade com o tema. No primeiro dia, num cruzamento do Itaim, um bairro nobre, encontrei Vitor*, 20 anos, vendedor de balas. Assim que comecei a falar, ele projetou a cabeça para dentro do veículo e examinou o acervo:

- Tem aí algum do Sidney Sheldon? Era o que eu mais curtia quando estava na cadeia. Foi lá que aprendi a ler.

Na ausência do célebre novelista americano, o critério de seleção se tornou mais simples. Vitor pegou o exemplar mais grosso da caixa e aproveitou para escolher outro - "Esse do castelo, que deve ser de mistério" - para presentear a mulher que o esperava na calçada.

Aos poucos, fui percebendo que o público mais crítico era formado por jovens, como Micaela*, 15 anos. Ela é parte do contingente de 2 mil ambulantes que batem ponto nos semáforos da cidade, de acordo com números da prefeitura de São Paulo. Num domingo, enfrentava com paçocas a 1 real uma concorrência que apinhava todos os cruzamentos da avenida Tiradentes, no centro. Fiz a pergunta de sempre. E ela respondeu:

- Hum, depende do livro. Tem algum de literatura?, provocou, antes de se decidir por Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

As crianças faziam festa (um dado vergonhoso: segundo a Prefeitura, ainda existem 1,8 mil delas nas ruas de São Paulo). Por estarem sempre acompanhadas, minha coleção diminuía a cada um desses encontros do acaso. Érico*, 9 anos, chegou com ar desconfiado pelo lado do passageiro:

- Sabe ler?, perguntei.

- Não..., disse ele, enquanto olhava a caixa. Mas, já prevendo o que poderia ganhar, reformulou a resposta:

- Sim. Sei, sim.

- Em que ano você está?

- Na 4ª B. Tio, você pode dar um para mim e outros para meus amigos?, indagou, apontando para um menino e uma menina, que já se aproximavam.

Mas o problema, como canta Paulinho da Viola, é que o sinal ia abrir. O motorista do carro da frente, indiferente à corrida desenfreada do trio, arrancou pela avenida Brasil, levando embora a mercadoria pendurada no retrovisor.

Se no momento das entregas que eu realizava se misturavam humor, drama, aventura e certo suspense, observar a reação das pessoas depois de presenteadas era como reler um livro que fica mais saboroso a cada leitura. Esquina após esquina, o enredo se repetia: enquanto eu esperava o sinal abrir, adultos e crianças, sentados no meio-fio, folheavam páginas. Pareciam se esquecer dos produtos, dos malabares, do dinheiro...

- Ganhar um livro é sempre bem-vindo. A literatura é maravilhosa, explicou, com sensibilidade, um vendedor de raquetes que dão choques em insetos.

Quase chegando ao fim da jornada literária, conheci Maria*.. Carregava a pequena Vitória*, 1 ano recém-completado, e cobiçava alguns trocados num canteiro da Zona Norte da cidade. Ganhou um livro infantil e agradeceu. Avancei dois quarteirões e fiz o retorno. Então, a vi novamente. Ela lia para a menininha no colo. Espremi os olhos para tentar ver seu semblante pelo retrovisor. Acho que sorria.

* os nomes foram trocados para preservar os personagens.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

QUEM É SEU AMANTE ?

JORGE BUCAY - Psicólogo

" Muitas pessoas têm um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam.
Geralmente, são essas últimas as que vêem ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia,
apatia, pessimismo, crises de choro, dores etc.
Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver
e que não sabem como ocupar seu tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente perdendo a esperança.
Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme:
'Depressão', além da inevitável receita do anti-depressivo do momento.
Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que não precisam de nenhum anti-depressivo; digo-lhes que precisam de um AMANTE!
É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho.
Há as que pensam: 'Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas?!' Há também as que, chocadas e escandalizadas,
se despedem e não voltam nunca mais.
Aquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o seguinte:
AMANTE é 'aquilo que nos apaixona', é o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono e é também aquilo que, às vezes, nos
impede de dormir.
O nosso AMANTE é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a
motivação da vida.
Às vezes encontramos o nosso amante em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores
paixões e sensações incríveis.Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto....
Enfim, é 'alguém' ou 'algo' que nos faz 'namorar' a vida e nos afasta do triste destino de 'ir levando'.
E o que é 'ir levando'? Ir levando é ter medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão, perambular
por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga nova que o
espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva.
Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã*.
Por favor, não se contente com 'ir levando'; procure um amante, seja também um amante e um protagonista
... DA SUA VIDA!

Acredite: O trágico não é morrer, afinal, a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é desistir de viver.. Por isso, e sem mais delongas, procure um amante ...
A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo Transcendental: 'PARA SE ESTAR SATISFEITO, ATIVO E SENTIR-SE JOVEM E FELIZ, É PRECISO NAMORAR A VIDA.'

"A mente cria, o desejo atrai e a fé realiza"

domingo, 11 de outubro de 2009

CURSOS GRÁTIS DA FGV - EAD - EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

http://www5.fgv.br/fgvonline/CursosGratuitos.aspx




A Fundação Getulio Vargas é a primeira instituição brasileira a ser membro do OCWC (Open Course Ware Consortium), o consórcio de instituições de ensino de diversos países que oferecem conteúdos e materiais didáticos de graça pela internet.

Para ter acesso ao que o FGV Online oferece a você nesse Consórcio, veja as opções abaixo.

Tópicos temáticos introdutórios na área de Gestão Empresarial - carga horária de 5h

Balanced Scorecard (novo!)

Conceitos e Princípios Fundamentais do Direito Tributário (novo!)

Consultoria em Investimentos Financeiros - Intermediação Financeira (novo!)

Direito do Trabalho - Contratação do Trabalhador (novo!)

Fundamentos da Gestão de Custos (novo!)

Gestão de Pessoas - Motivação nas Organizações (novo!)

Processo de Comunicação e Comunicação Institucional (novo!)

Estratégia de Empresas - Introdução à Administração Estratégica

Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável - História da Questão Ambiental

Gestão de Marketing - Produto, Marca, Novos Produtos e Serviços

Gestão da Tecnologia da Informação - TI nas Organizações: Estratégia e Conceitos

Técnicas de Gerência de Projetos - Gerenciamento do Escopo do Projeto

Tópicos temáticos introdutórios na área de Metodologia - carga horária de 5h

Metodologia de Pesquisa - Conhecimento, saber e ciência

Metodologia do Ensino Superior - Universidade e Sociedade

Cursos em áreas de conhecimento diversas - carga horária de 15h

Ciência e Tecnologia

Diversidade na Organização

Ética Empresarial

Recursos Humanos

Cursos para professores do Ensino Médio - carga horária de 30h

Filosofia

Sociologia

Você já domina as novas regras ortográficas da Língua Portuguesa? Acesse nosso quiz para conhecê-las e, ao mesmo tempo, testar conhecimentos gerais:

Quiz: Jogo das Novas Regras Ortográficas - Reconhecendo Texto e Contexto

O QUE É COLÉGIO INTERNACIONAL DOS TERAPEUTAS?

ROBERTO CREMA

Psicólogo e antropólogo do Colégio Internacional dos Terapeutas, analista transacional didata, criador do enfoque da Síntese Transacional. Mentor da Formação Holística de Base da UNIPAZ. Diretor da Holos Brasil. Educador e autor de vários livros, entre os quais "Análise Transacional Centrada na Pessoa", "Introdução à visão holística" e "Saúde e plenitude". Vice -reitor da UNIPAZ.

Colégio Internacional dos Terapeutas não forma, por isso é preciso compreender a conexão existente entre a UNIPAZ e o C.I.T. Nós precisamos de uma educação para a reconstrução e formação de pessoas na abordagem transdisciplinar holística, que neste caso é a Unipaz. Por isso, a Unipaz é uma instituição, por que fornece diplomas. O C.I.T. é uma rede “trans-institucional” e é totalmente “krishnamurtiano”, por que não tem autoridades, não tem papa... tem um coordenador, que é alguém que cuida de um cadastro, que dá as informações e que existe, como existia entre os Terapeutas de Alexandria, uma consideração aos mais antigos; tanto é que no C.I.T., as pessoas mantêm a data em que foram acolhidas, exatamente como era entre os Terapeutas de Alexandria. Mas não é nenhuma hierarquia, é apenas uma consideração de que “existem pessoas que erraram mais”, que “levaram mais tombos” e que talvez possam facilitar que outros errem um pouco menos. Só isso! O próprio Jean-Yves Leloup, no final do manual diz: “Eu não sou obediência nenhuma, nem pessoal, nem profissional!” O C.I.T. é um espaço de encontro entre Terapeutas já formados, por isso, não é possível participar do C.I.T. sem a Unipaz, e é por isso que um dos pré-requisitos para o C.I.T. é a formação holística de base que atesta que a pessoa, pelo menos por três anos, refletiu sobre um novo paradigma, integrou esse paradigma, ofereceu uma obra prima, e que ao falar sobre abordagem transdisciplinar holística vai saber o que está falando. Por que existem muitas pessoas que falam de holística de forma totalmente alienada. Essa palavra, “holística”, foi muito desgastada: “Terapia holística”, “Massagem holística”, “Alimentação holística”, “Terapeuta Holística”... as pessoas falam de holística para tudo! Tanto é, que nós decidimos que vamos focalizar mais agora, o transdisciplinar. Terapeuta Holístico... Ninguém é terapeuta holístico! Isso é o mesmo que dizer que um médico que é um médico cartesiano newtoniano! A holística não é uma modalidade terapêutica, não é uma filosofia, não é uma ciência, não é uma arte, não é uma religião! A holística é um paradigma que gera ciência, que gera metodologias, que gera filosofias... e se esse pessoal que criou o Conselho de Terapeutas Holísticos tivessem nos consultado teriam feito alguma coisa um pouco mais inteligente. Eu reconheço esse esforço e até digo que eu sou um dos que os criou, que deu um cochilo dos corporativismos que levou que esse pessoal falasse de um conselho geral de terapeutas holísticos. Esse é um ponto interessante que eu acho que eles conseguiram abrir um espaço. Agora, eu espero que essa palavra “terapeuta” não pertença a nenhum conselho, por que essa palavra “terapeuta” veio do deserto e não pertence a nenhuma categoria: nem de médicos, nem de psicólogos, nem de educadores e nem de terapeutas holísticos. Se você faz parte, basta colocar em seu cartãozinho: “Terapeuta com abordagem holística”. Aí, tudo bem! Você tem uma abordagem holística, por que aí é mostrar uma certa fragilidade de inconsistência! Nós não estamos articulando a holística como uma terapia pois isso seria uma miséria! Nós estamos articulando a holística como um novo paradigma que vai facilitar a emergência de novos terapeutas, de novos educadores, de novos sacerdotes, de novos artistas... Então, a Formação Holística de Base é para que uma pessoa que se dirija ao C.I.T. possa honrar essa palavra “holística”! Possa saber do que está falando e sustentar no meio acadêmico o que vem a ser a transdisciplinariedade! É uma exigência mínima, portanto, aquele que estiver participando da Formação Holística de Base, não tenha pressa de chegar ao C.I.T., por que já está no caminho. Quando essa pessoa terminar a formação holística de base e se esse desejo persistir... se a pessoa for um terapeuta “esquisito”, (que em italiano quer dizer aquilo que é belo), procure também por um “terapeuta esquisito” que já faça parte do C.I.T., apresente a sua “esquisitice” através de uma carta, através de uma obra prima e apresente o seu desejo! Se esse terapeuta tiver disponibilidade para te acompanhar, por que na medida em que esse terapeuta aceita o seu desejo,você se faz “terapeuta aspirante” e ele se faz “terapeuta acompanhante” do seu processo. E esse acompanhamento se fará num período nunca menor que um ano. Durante um ano, encontros periódicos acontecendo entre você, como terapeuta aspirante, com o seu terapeuta acompanhante.

O que nos une no C.I.T. são dez orientações maiores sobre antropologia antropologia, ética, silêncio, estudo, generosidade, reciclagem, reconhecimento, anamnese essencial, despertar da presença, fraternidade:
1.Antropologia holística, que é também uma ontoInternacionalogia e cosmologia, implicando no reconhecimento da tríplice condição existencial, físico-psíquico-consciencial, atravessada pelo mistério do Ser;
2.Ética da benção e do respeito à inteireza, jamais reduzindo o ser humano a um rótulo, também cuidando, nele, daquilo que não é doente, a partir do qual uma dinâmica de cura é ativada;
3.Prática diária meditativa do silêncio, visando a centralidade e abertura à transcendência;
4.Prática diária do estudo dos textos contemporâneos e os da sabedoria perene, visando uma permanente atualização;
5.Prática diária da gratuidade, para o exercício da solidariedade, do serviço desapegado ao outro, à sociedade, ao universo;
6.Reciclagem, um compromisso de vivenciar, anualmente, um tempo-espaço de recolhimento para uma revisão, reflexiva e meditativa, do processo de individuação;
7.Reconhecimento da necessidade de ser acompanhado por uma escuta terapêutica, evitando o risco da inflação egóica do julgar-se pronto, estancando o processo contínuo de aprendizagem e aperfeiçoamento;
8.Anamnese essencial, através de registros sistemáticos das vivências, no estado de vigília e no onírico, que evidenciam a presença numinosa do Ser, na existência cotidiana;
9.O despertar da Presença, a tarefa de lembrar o que realmente somos, o Ser que nos funda e informa, através da respiração, da invocação, ou da atenção plena ao instante;
10.A fraternidade, através de um ritmo de encontros para a sinergia, o estudo partilhado, a comunhão meditativa.

Isso pode ser encontrado na introdução do livro “Antigos e Novos Terapeutas”. Depois desse período de um ano de acompanhamento, quando o terapeuta acompanhante e o aspirante, considerarem ambos que a pessoa está pronta, para receber o acolhimento, então, o terapeuta acompanhante escreverá uma carta para o coordenador da América do Sul, e então, uma Casa será indicada. O que é uma Casa? O C.I.T. é concebido assim: quando existir quatro terapeutas e um terapeuta coordenador numa região, então há uma Casa de Terapeutas, aonde eles vão se reunir periodicamente para praticarem a fraternidade, o estudo, a meditação, a contemplação, o canto, a oração, etc... Quando numa cidade tiver quatro Casas e mais uma Casa coordenadora, em tão teremos um Colégio. Quando uma cidade tiver quatro Colégios e um Colégio coordenador, então teremos um Colegiado e este já poderá ter um “Centro de Estudo e de Silêncio”. Poderá ser um Espaço de Retiro, de Acolhimento, de Estudos, de Organização de Eventos, de Congresso, etc... Então, neste momento, o C.I.T. é uma utopia, é algo que está se desenvolvendo! No Brasil já temos uma casa em Brasília e já temos 33 terapeutas na América do Sul.


E o que é “ser acolhido”?

Uma Casa, com quatro terapeutas mais um terapeuta acompanhante; cinco terapeutas estarão num evento intimo, que não é aberto, com uma ética, que apenas a casa terá o conhecimento desse acolhimento, não é divulgado por que é preciso que haja uma ética de respeito, e, o aspirante, primeiro, ritualisticamente vai ser introduzido na casa, o acompanhante vai dizer o que é o C.I.T. e o que são as Dez Orientações Maiores, no ponto de vista ritualístico e depois passar a palavra para o Terapeuta Acompanhante que vai dirigir a Casa durante um tempo que pode variar de 20 minutos ou 1 hora, ou mais. Depois o terapeuta aspirante vai ser convidado a se retirar para refletir sobre o seu desejo e a Casa vai deliberar se o terapeuta aspirante está pronto para ser acolhido ou não. Se estiver pronto, esse terapeuta voltará e através de um ritual muito simples e de muito amor, receberá um manto que lembra que nos seus momentos de intimidade da meditação, ele se envolve nesse manto, e se lembra de que não está só! Esse manto representa a linhagem dos Terapeutas! E eu gosto de interpretar o que é também um mantra, quando você se volta para a sua meditação diária, é para você continuar e cultivar essa presença, essa linhagem e que quando você estiver atuando, não é só você que vai estar atuando: haverá essa egrégora que vai estar te acompanhando. Então, é dessa forma, que Jean-Yves Leloup traz dois pontos dos Terapeutas de Alexandria para o mundo contemporâneo, para a nossa atual Alexandria. Esta é uma breve forma de explicar o que é o C.I.T.
O C.I.T. está em construção; é uma obra em construção!

Roberto Crema
Por ocaisão do Seminário Síntese Transacional e Ecologia do Ser, ocorrido no núcleo São José dos Campos, com as turmas FHB II e III em 06/09/2003

Aloha!
A
vem da própria palavra "Aloha", que significa de forma ampla, bem-vindo; o que é meu, também é seu, compartilhemos juntos;
L
vem da palavra "Lokomaikaii", que significa que o que eu digo vem do fundo do meu coração, banhado em boas intenções;
O
vem da palavra "Oluolu", significa felicidade. Ser feliz é parte de nossa herança;
H
vem da palavra "Haahaa" significando modéstia e submissão. Nós lhe demos boas vindas e fazemos coisas para vocês, porque nos sentimos felizes tendo humildade em lhe servir;
A
vem da palavra, também hawaiana, "A-a-kamaka", que significa que nossos olhos estão abertos, mas nossos lábios fechados. Se você nos tirar alguma coisa, não falaremos nada, mas saberemos o que está se passando.

domingo, 19 de julho de 2009

TRECHOS DO LIVRO : EM BUSCA DE SENTIDO - UM PSICÓLOGO NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

VIKTOR E. FRANKL



PREFÁCIO · EDIÇÃO NORTE AMERICANA - de 1984

O escritor e psiquiatra Viktor Frankl costuma perguntar a seus pacientes quando estão sofrendo muitos tormentos grandes e pequenos "Por que não opta pelo suicídio?" É a partir das respostas a esta pergunta que ele encontra, freqüentemente, as linhas centrais da psicoterapia a ser usada. Num caso, a pessoa se agarra ao amor pelos filhos; em outro, há um talento para ser usado, e, num terceiro caso, velhas recordações que vale a pena preservar. Costurar estes débeis filamentos de uma vida semi-destruída e construir com eles, um padrão firme, com um significado e uma responsabilidade - este é o objetivo e o desafio da logoterapia, versão da moderna análise existencial elaborada pelo próprio Dr. Frankl.
Neste livro, o Dr. Frankl descreve a experiência que o levou à descoberta da logoterapia. Prisioneiro durante longo tempo em campos de concentração, onde seres humanos eram tratados de modo pior do que se fossem animais ele se viu reduzido aos limites entre o ser e o não-ser. O pai, a mãe, o irmão e a esposa de Viktor Frankl morreram em campos de concentração ou em crematórios, e exceto sua irmã, toda sua família morreu nos campos de concentração. Como foi que ele - tendo perdido tudo o que era seu, com todos os seus valores destruídos, sofrendo de fome, do frio e da brutalidade, esperando a cada momento a sua exterminação final - conseguiu encarar a vida como algo que valia a pena preservar?
Um psiquiatra que passou pessoalmente por tamanha experiência certamente tem algo a dizer. Ele - mais que ninguém - pode ser capaz de ver a nossa condição humana com sabedoria e compaixão. As palavras do Dr. Frankl têm um acento profundamente honesto, porque estão baseadas em experiências tão profundas que impedem qualquer distorção. O que ele tem a dizer ganha em prestígio devido à sua atual posição na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena e por causa do renome das clínicas logoterapêuticas que hoje estão funcionando em muitos países, segundo o padrão da famosa Policlínica Neurológica de Viktor Frankl em Viena.
É impossível evitar a comparação entre os enfoques terapêutico e teórico de Frankl e o trabalho do seu predecessor, Sigmund Freud. Os dois se preocuparam basicamente com a natureza e a cura das neuroses. Freud encontra a raiz destas desordens angustiantes na ansiedade causada por motivos inconscientes e conflitantes. Frankl distingue várias formas de neurose e atribui algumas delas (as neuroses orgânicas) à incapacidade de encontrar um significado e um sentido de responsabilidade em sua existência. Freud acentua as frustrações da vida sexual; Frankl, a frustração do desejo de sentido e significado. Na Europa, hoje, há uma forte tendência a um distanciamento de Freud e a uma aproximação da análise existencial, que assume várias formas - entre elas a escola de logoterapia. Frankl não repudia a postura de Freud - e isto é típico da sua atitude tolerante - mas constrói seu trabalho de bom grado sobre as contribuições freudianas. Tampouco ataca as outras formas de terapia existencial, mas aceita com satisfação o parentesco da logoterapia com elas.
Esta narrativa, embora breve, é muito bem construída e atraente. Por duas vezes eu a li sem levantar uma só vez da poltrona, incapaz de me afastar da seqüência de suas palavras.
Em algum momento, depois da metade da história, o Dr. Frankl introduz sua própria filosofia logoterapêutica, mas o faz de modo tão suave ao longo da narrativa que só depois de terminar a leitura é que o leitor percebe tratar-se de um profundo ensaio, e não apenas de mais uma história sobre as brutalidades dos campos de concentração.
O leitor pode aprender muito com este fragmento autobiográfico. Ele percebe o que um ser humano faz quando subitamente compreende que não tem "nada a perder senão sua existência tão ridiculamente nua". Frankl faz uma cativante descrição do misto de emoção e apatia. Primeiro surge uma fria e distante curiosidade de saber o próprio destino. Depois surgem estratégias de preservação do que resta de vida, apesar das chances de sobreviver serem pequenas. Fome, humilhação, medo e profunda raiva das injustiças são dominadas graças às imagens sempre presentes de pessoas amadas, graças ao sentimento religioso, a um amargo senso de humor e até mesmo graças às visões curativas de belezas naturais - uma árvore ou um pôr-do-sol.
Mas estes momentos de conforto não estabelecem o desejo de viver - a menos que ajudem o prisioneiro a ver um sentido maior no seu sofrimento aparentemente destituído de significado. É aqui que encontramos o tema central do existencialismo.
A vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar significado na dor, se há, de algum modo, um propósito na vida, deve haver também um significado na dor e na morte. Mas pessoa alguma é capaz de dizer o que é este propósito. Cada um deve descobri-lo por si mesmo, e aceitar a responsabilidade que sua resposta implica. Se tiver êxito, continuará a crescer apesar de todas as indignidades. Frankl gosta de citar esta frase de Nietzsche:
"Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como."
No campo de concentração todas as circunstâncias conspiram para fazer o prisioneiro perder seu controle. Todos os objetivos comuns da vida estão desfeitos. A única coisa que sobrou é "a última liberdade humana" - a capacidade de escolher a atitude pessoal que se assume diante de determinado conjunto de circunstâncias". Esta liberdade última, reconhecida pelos antigos estóicos e pelos modernos existencialistas, assume um vívido significado na história de Frankl. Os prisioneiros eram apenas cidadãos comuns; mas alguns, pelo menos, comprovaram a capacidade humana de erguer-se acima do seu destino externo ao optarem por serem "dignos do seu sofrimento".
Naturalmente, o autor, como psicoterapeuta, deseja saber como se pode ajudar as pessoas a alcançar esta capacidade exclusiva dos humanos. Como se pode despertar num paciente o sentimento de que é responsável por algo perante a vida, por mais duras que sejam as circunstâncias? Frankl nos dá um emocionante relato de uma sessão terapêutica que teve com seus companheiros de prisão.
Respondendo a um pedido do editor, o Dr. Frankl acrescentou à sua autobiografia uma exposição breve, mas clara dos pontos básicos da logoterapia. Até agora a maior parte das publicações desta "Terceira Escola Vienense de Psicoterapia" (as anteriores são as de Freud e Adler) tem aparecido em alemão. Assim, o leitor gostará de ter um texto adicional de Frankl complementando sua narrativa pessoal.
Ao contrário de muitos existencialistas europeus, Frankl não é nem pessimista nem anti-religioso. Ao contrário, para um escritor que enfrenta com coragem a ubiqüidade das forças do mal, ele assume uma visão surpreendentemente positiva da capacidade humana de transcender sua situação difícil e descobrir uma adequada verdade orientadora.
Recomendo sinceramente este pequeno livro, porque é uma obra-prima de narrativa dramática focalizada sobre os mais profundos problemas humanos. Tem méritos literários e filosóficos e fornece uma estimulante introdução a um dos mais significativos movimentos psicológicos de nossos dias.
Gordon W. Allport

Gordon W. Allport, professor de Psicologia na Universidade de Harvard, é um dos maiores escritores e professores nesta área no hemisfério norte. Publicou numerosos livros sobre Psicologia e foi o editor do Journal of Abnormal and Social Psychology. Foi principalmente através do trabalho pioneiro do Prof. Allport que a importante teoria de Frankl foi introduzida nos Estados Unidos. Além disso, é em grande parte graças a ele que o interesse em torno da logoterapia tem crescido exponencialmente neste país.




PREFÁCIO DO AUTOR · EDIÇÃO DE 1984
* Tradução de Carlos C. Aveline.

Este livro já viveu o suficiente para entrar na septuagésima terceira impressão em inglês - além de ter sido publicado em outras dezenove línguas. Apenas as edições em inglês venderam quase dois milhões e meio de exemplares.
Estes são os fatos, e é possível que eles sejam o motivo pelo qual os repórteres de jornais norte-americanos, e especialmente das estações de televisão, começam suas entrevistas, depois de listarem estes fatos, com a exclamação: "Dr. Frankl, seu livro se transformou num autêntico best-seller - como você se sente com tamanho sucesso?" Ao que costumo responder que, em primeiro lugar, vejo no status de best-seller do meu livro não tanto uma conquista e realização da minha parte, mas como uma expressão da miséria dos nossos tempos: se centenas de milhares de pessoas procuram um livro cujo título promete abordar o problema do sentido da vida, deve ser uma questão que as está queimando por dentro.
Certamente, algo mais pode ter contribuído para o impacto do livro: sua segunda parte, teórica, "Conceitos Fundamentais de Logoterapia", focaliza a lição que o leitor pode ter tirado da primeira parte, o relato autobiográfico ("Experiências num Campo de Concentração"), enquanto que esta serve como validação existencial das minhas teorias. Assim, as duas partes dão credibilidade uma à outra.
Não tinha nada disso em mente quando escrevi o livro em 1945. E o fiz no espaço de tempo de nove dias, com a firme determinação de ter o livro publicado anonimamente. Com efeito, a primeira impressão da versão original alemã não mostra meu nome na capa, apesar de, na última hora, eu haver finalmente cedido a meus amigos que estavam insistindo comigo para que deixasse o livro ser publicado com o meu nome pelos menos na página de rosto, onde vai o título. Inicialmente, no entanto, havia sido escrito com a absoluta convicção de que, como obra anônima, nunca daria fama literária a seu autor. Havia querido simplesmente transmitir ao leitor, através de exemplos concreto, que a vida tem um sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as mais miseráveis. E considerava que, se a tese fosse demonstrada numa situação tão extrema como a de um campo de concentração, meu livro encontraria um público. Consequentemente, me senti responsável pela tarefa de colocar no papel o que eu havia vivido. Pensava que poderia ser útil a pessoas que têm inclinação para o desespero.
Parece-me algo ao mesmo tempo estranho e notável o fato de que - entre as dúzias de livros que escrevi - precisamente este, que pretendia publicar anonimamente de modo que nunca desse reputação a seu autor, se transformasse num sucesso. Em conseqüência, não canso de alertar meus alunos, tanto na Europa como nos Estados Unidos: "Não procurem o sucesso. Quanto mais o procurarem e o transformarem num alvo, mais vocês vão sofrer. Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de um dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser. A felicidade deve acontecer naturalmente, e o mesmo ocorre com o sucesso; vocês precisam deixá-lo acontecer não se preocupando com ele. Quero que vocês escutem o que sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira possível. E então vocês verão que a longo prazo - estou dizendo: a longo prazo! - o sucesso vai persegui-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar nele."
Se o texto do livro a seguir transmite, prezado leitor, uma lição que pode ser tirada de Auschwitz, o texto do parágrafo acima pode dar uma lição tirada de um best-seller involuntário.
Quanto a esta nova edição, foi acrescentado um capítulo para atualizar as conclusões teóricas do livro. Tirado de uma palestra que pronunciei como presidente honorário do Terceiro Congresso Mundial de Logoterapia, no Auditorium Maximo da Universidade de Regensburg, na República Federal da Alemanha (em junho de 1983), ele forma agora o Pós-escrito de 1984 a este livro, e é intitulado "A Tese do Otimismo Trágico". O capítulo se refere a preocupações dos dias de hoje e como é possível "dizer sim à vida" apesar de todos os aspectos trágicos da existência humana. Espera-se que um certo "otimismo" com relação ao nosso futuro possa fluir das lições retiradas do nosso "trágico" passado.
V.E.F. - Viena,1983

I

EM BUSCA DE SENTIDO

Um Psicólogo no Campo de Concentração

Este livro não trata de fatos e acontecimentos externos, mas de experiências pessoais que milhares de prisioneiros viveram de muitas formas. É a história de um campo de concentração visto de dentro, contada por um dos seus sobreviventes. Não vamos descrever os grandes horrores (já bastante denunciados; embora nem sempre se acredite neles), mas sim as inúmeras pequenas torturas. Em outras palavras, tentarei responder à seguinte pergunta: "De que modo se refletia na cabeça do prisioneiro médio a vida cotidiana do campo de concentração?"
Diga-se de antemão que as experiências aqui relatadas não se relacionam tanto com acontecimentos nos campos de concentração grandes e famosos, mas com os que ocorreram em suas famigeradas filiais menores. É fato notório que justamente estes campos mais reduzidos eram autênticos locais de extermínio: Em pauta estará aqui não a paixão e morte dos grandes heróis e mártires, mas a das "pequenas" vítimas, a "pequena" morte da grande massa. Não vamos nos ocupar com aquilo que o Capo (* Prisioneiros que dispunham de privilégios (N. do E.).) nem este ou aquele prisioneiro pessoalmente importante sofreu ou tem para contar, mas vamos tratar da paixão do prisioneiro comum e desconhecido. Este último não usava o distintivo em forma de braçadeira a era desprezado pelos Capos. Enquanto ele passava fome até morrer de inanição, os Capos não passavam mal. Houve até alguns que nunca se alimentaram tão bem em sua vida. Do ponto de vista psicológico e caracteriológico, este tipo de pessoas deve ser encarado antes como os SS ou os guardas do campo de concentração. Os Capos tinham se assemelhado a estes, psicológica e sociologicamente, e com eles colaboravam. Muitas vezes eram mais rigorosos que a guarda do campo de concentração e eram os piores algozes do prisioneiro comum, chegando, por exemplo, a bater com mais violência que a própria SS. Afinal, de antemão somente eram escolhidos para Capos aqueles prisioneiros que se prestavam a este tipo de procedimento; e caso não fizessem jus ao que deles se esperava, eram imediatamente depostos.

Seleção ativa e passiva
O não-iniciado que olha de fora, sem nunca ter estado num campo de concentração, geralmente tem uma idéia errada da situação num campo destes. Imagina a vida lá dentro de modo sentimental, simplifica a realidade e não tem a menor idéia da feroz luta pela existência, mesmo entre os próprios prisioneiros e justamente nos campos menores. É violenta a luta pelo pão de cada dia e pela preservação e salvação da vida. Luta-se sem dó nem piedade pelos próprios interesses, sejam eles do indivíduo ou do seu grupo mais íntimo de amigos. Suponhamos, por exemplo, que seja iminente um transporte para levar certo número de internados para outro campo de concentração, segundo a versão oficial, mas há boas razões para supor que o destino seja a câmara de gás, porque o transporte de pessoas doentes e fracas representa uma seleção dos prisioneiros incapacitados de trabalhar, que deverão ser dizimados num campo maior, equipado com câmaras de gás e crematório. É neste momento que estoura a guerra de todos contra todos, ou melhor, de uns grupos e panelinhas contra outros. Cada qual procura proteger-se a si mesmo ou os que lhe são chegados, pô-los a salvo do transporte, "requisitá-los" no último momento da lista do transporte. Um fato está claro para todos: para aquele que for salvo desta maneira, outro terá que entrar na lista. Afinal de contas, o que importa é o número; o transporte terá que ser completado com determinado número de prisioneiros. Cada qual então representa pura e simplesmente uma cifra, pois na lista constam apenas os números dos prisioneiros. Afinal de contas é preciso considerar que em Auschwitz, por exemplo, quando o prisioneiro passa pela recepção, ele é despojado de todos os haveres e assim também acaba ficando sem nenhum documento, de modo que, quem quiser, pode simplesmente adotar um nome qualquer, alegar outra profissão, etc. Não são poucos os que apelam para este truque, por diversas razões. A única coisa que não dá margem a dúvidas e que interessa aos funcionários do campo de concentração é o número do prisioneiro, geralmente tatuado no corpo. Nenhum vigia ou supervisor tem a idéia de exigir que o prisioneiro se identifique pelo nome, quando quer denunciá-lo, o que geralmente acontece por alegação de "preguiça". Simplesmente verifica o número que todo prisioneiro precisa usar, costurado em determinados pontos da calça, do casaco e da capa, e o anotar (ocorrência muito temida por suas conseqüências).
Voltemos ao caso do transporte previsto. Nesta situação o prisioneiro não tem tempo nem disposição para se demorar em reflexões abstratas e morais. Cada qual só pensa em salvar a sua vida para os seus, que por ele esperam em casa, e preservar aqueles aos quais se sente ligado de alguma forma no campo de concentração. Por isso não hesitará em dar um jeito de incluir outra pessoa, outro "número" no transporte.
O que dissemos acima já dá para entender que os Capos eram resultado de uma espécie de seleção negativa: para esta função somente se prestavam os indivíduos mais brutais, embora felizmente tenha havido, é claro, exceções, as quais, deliberadamente, não vamos considerar aqui. Mas além dessa seleção ativa, efetuada, por assim dizer, pelo pessoal da SS, havia ainda uma seleção passiva. Existiam prisioneiros que viviam anos a fio em campos de concentração e eram transferidos de um para outro, passando às vezes por dezenas deles. Dentre eles, em geral, somente conseguiam manter-se com vida aqueles que não tinham escrúpulos nessa luta pela preservação da vida e que não hesitavam em usar métodos violentos ou mesmo em trair amigos. Todos nós que escapamos com vida por milhares e milhares de felizes coincidências ou milagres divinos - seja lá como quisermos chamá-los - sabemos e podemos dizer, sem hesitação, que os melhores não voltaram.

Relato do prisioneiro No 119104
Ensaio psicológico
Quando o ex-prisioneiro 119104 tenta descrever agora o que vivenciou como psicólogo no campo de concentração, é preciso observar de antemão que naturalmente ele não atuou ali como psicólogo, nem mesmo como médico (a não ser durante as últimas semanas). Cumpre salientar este detalhe, porque o importante não será mostrar o seu modo de vida pessoal, mas a maneira como precisamente o prisioneiro comum experimentou a vida no campo de concentração. Não é sem orgulho que digo não ter sido mais que um prisioneiro "comum", nada fui senão o simples nº 119104. A maior parte do tempo estive trabalhando em escavações e na construção de ferrovias. Enquanto alguns poucos colegas de profissão tiveram a sorte de ficar aplicando ataduras improvisadas com papel de lixo em postos de emergência dotados de algum tipo de calefação, eu, por exemplo, tive de cavar sozinho um túnel por baixo de uma estrada, para a colocação de canos d'água. Isto para mim não deixou de ser importante, pois como reconhecimento deste "serviço prestado" recebi dois dos assim chamados cupons-prêmio; pouco antes do Natal de 1944. Esses cupons eram emitidos pela firma de construção à qual éramos literalmente vendidos como escravos pelo campo de concentração. Em troca de cada dia de trabalho de um prisioneiro a firma tinha que pagar à administração do campo determinada quantia. Cada cupom-prêmio custava à firma 50 centavos e era resgatado a 5 cigarros no campo de concentração, geralmente apenas depois de passadas algumas semanas. De repente eu estava de posse de um valor equivalente a doze cigarros! Acontece que doze cigarros valiam doze sopas, e doze sopas realmente significam muitas vezes a salvação da morte por inanição, para duas semanas, ao menos. Somente um Capo, que tinha seus cupons-prêmio garantidos, é que podia dar-se ao luxo de fumar cigarros além do prisioneiro que dirigia alguma oficina ou depósito no almoxarifado e que recebia cigarros em troca de favores especiais. Todos os demais, os prisioneiros comuns, costumavam trocar por gêneros alimentícios aqueles cigarros que recebiam através de cupons-prêmio, isto é, por meio de serviços adicionais que representavam perigo de vida; a não ser que tivessem desistido de continuar vivendo, por terem perdido as esperanças, resolvendo então gozar os últimos dias de vida que ainda tinham pela frente. Quando um colega começava a fumar seus poucos cigarros, já sabíamos que havia perdido a esperança de poder continuar - e, de fato, então não agüentava mais.
O anterior foi justificar e explicar o título do livro. Vejamos agora que sentido tem propriamente um relato deste tipo.
Afinal de contas, já foi publicado um número mais que suficiente de relatos contando os fatos nos campos de concentração. Aqui todavia, apresentaremos os fatos apenas na medida em que eles desencadearam uma experiência na própria pessoa; é para a experiência pessoal em si que se voltará o estudo psicológico que segue. Esse tem uma dupla intenção, procurando atingir tanto o leitor que conhece como o que não conhece por experiência própria o campo de concentração e a vida que ali se passa. Para o leitor que o conhece, procuraremos explicar suas experiências com os métodos científicos disponíveis no momento. Para os outros leitores, procuraremos tornar compreensível aquilo que para o Qrþelro já foi sentido e faltava ser explicado. O objetivo, então, é fazer o não-iniciado também compreender a experiência do prisioneiro e suas atitudes, e compreender também aquele número tão reduzido de ex-prisioneiros que sobreviveram, aceitando a sua atitude singular diante da vida – e que constitui uma novidade do ponto de vista psicológico.
Pois a atitude dos sobreviventes não é sempre fácil de compreender. Frequentemente ouvimos essas pessoas dizer: "Não gostamos de falar sobre a nossa experiência. Não é necessária nenhuma explicação para quem esteve num campo, e a quem não esteve jamais conseguiremos explicar o que havia dentro de nós, nem tampouco o que continuamos sentindo hoje."
É muito difícil fazer uma exposição metódica deste tipo de ensaio psicológico. A psicologia exige distanciamento científico. Será que a pessoa que experimentou a vida no campo de concentração teria o distanciamento necessário, durante a experiência, ou seja, na época em que precisou fazer as respectivas observações? Aquele que está de fora tem distanciamento, mas está distante demais do fluxo de vivência para poder colocar qualquer afirmação válida. Pode ser que quem esteve completamente envolvido tivesse muito pouco distanciamento para poder chegar a um julgamento bem objetivo. Ocorre, porém, que somente ele chega a conhecer a experiência em questão. Naturalmente não só é possível mas é até muito provável que o critério que aplica às coisas esteja distorcido. Isto será inevitável. Ser mister tentar excluir da descrição o aspecto particular e pessoal na medida do possível; mas, quando necessário, ter também a coragem para uma descrição de cunho pessoal da experiência. Porque, a rigor, o perigo de uma investigação psicológica semelhante não reside em apresentar traços pessoais, mas exclusivamente em tornar-se tendenciosa. Por isso deixarei que outros destilem mais uma vez o que está sendo apresentado, tirando do extrato dessas experiências subjetivas as suas conclusões impessoais em forma de teorias objetivas.
Poderia ser uma contribuição à psicologia do encarceramento, investigada depois da Primeira Guerra Mundial, e que nos mostrou a "doença do arame farpado" dos primeiros campos de concentração. Devemos ser gratos à Segunda Guerra Mundial por ela ter aumentado o nosso conhecimento sobre a "psicopatologia das massas" (para parafrasear o título de um livro bastante conhecido de LeBon). Ela nos agraciou com a "guerra de nervos" e com todas as experiências do campo de concentração.
Neste ponto quero mencionar que inicialmente não pretendia publicar este livro com o meu nome, mas apenas indicando o meu número de prisioneiro. A razão disto estava em minha aversão a todo e qualquer exibicionismo com relação às experiências vividas. O manuscrito já estava concluído quando me convenceram de que uma publicação anônima comprometeria o seu próprio valor, visto que a coragem da confissão eleva o valor do testemunho. Por amor à causa, portanto, desisti também de cortes posteriores, suplantando a aversão do exibicionismo com a coragem de confessar - superando-me assim a mim mesmo.
Numa primeira classificação da enorme quantidade de material de observações sobre si mesmo ou sobre outros, do total de experiências e vivências passadas em campos de concentração, poderíamos distinguir três frases nas reações psicológicas do prisioneiro ante a vida no campo de concentração: a fase da recepção no campo, a fase da dita vida no campo de concentração e a fase após a soltura, ou melhor, da libertação do campo.

A estação ferroviária de Auschwitz
A primeira fase se caracteriza pelo que se poderia chamar de choque de recepção. É preciso lembrar que o efeito de choque psicológico pode preceder à recepção formal, dependendo das circunstâncias. Este foi o caso, por exemplo, naquele transporte no qual eu mesmo cheguei a Auschwitz. Imagine-se a situação: o transporte de 1500 pessoas está a caminho há alguns dias e noites. Em cada vagão do trem se estiram 80 pessoas sobre a sua bagagem (seus últimos haveres). As mochilas, bolsas, etc. empilhadas impedem quase toda visão pelas janelas, deixando livre apenas um último vão na parte superior. Lá fora se divisa o primeiro clarão da aurora. Todos achávamos que o transporte se dirigia para alguma fábrica de armamento onde nos usariam para trabalhos forçados. Aparentemente o trem pára em algum lugar no meio da linha; ninguém sabe ao certo se ainda estamos na Silésia ou já na Polônia. O apito estridente da locomotiva causa arrepios, ecoando como um grito de socorro ante o pressentimento daquela massa de gente personificada pela máquina e por esta conduzida rumo a uma grande desgraça. O trem começa a manobrar frente a uma grande estação. De repente, do amontoado de gente esperando ansiosamente no vagão, surge um grito: "Olha a tabuleta: Auschwitz!" Naquele momento não houve coração que não se abalasse. Todos sabiam o que significava Auschwitz. Esse nome suscitava imagens confusas, mas horripilantes de câmaras de gás, fornos crematórios e execuções em massa. O trem avança lentamente, como que hesitando, como se quisesse dar aos poucos a má notícia a sua desgraçada carga humana: "Auschwitz". Agora a visão já está melhor: a aurora já permite ver a silhueta de um campo de concentração de colossais dimensões, estendendo-se por quilômetros à esquerda e à direita dos trilhos. Múltiplas cercas de arame farpado sem fim, torres de vigia, refletores e longas colunas de figuras humanas aos farrapos, cinzentas no alvorecer, que avançam exaustas pelas ruas desoladas do campo de concentração - sem que ninguém saiba para onde. Aqui e ali se ouve um apito de comando – e ninguém sabe para quê. Em alguns de nós, o terror fica estampado no rosto. Eu pensava estar vendo certo número de cadafalsos dos quais pendiam pessoas enforcadas. O horror tomava conta de mim, e isto era bom: segundo a segundo e passo a passo precisávamos nos defrontar com o horror.
Finalmente chegamos à estação de desembarque. Lá fora, nenhuma movimentação, ainda. De repente, brados de comando daquele jeito peculiar - estridente e rude - que de agora em diante ouviríamos sempre de novo em todos os campos de concentração, cujo som é semelhante ao último berro de um homem assassinado, com uma diferença: o som também é rouco e fanhoso, como se saísse da garganta de um homem que tem que gritar constantemente assim porque está sendo constantemente assassinado. . .
Abrem-se violentamente as portas do vagão e ele é invadido por um pequeno bando de prisioneiros trajando a roupa típica de reclusos, cabeça raspada, porém muito bem alimentados. Falam todas as línguas européias possíveis e irradiam todos uma jovialidade que neste momento e situação só pode mesmo ser grotesca: Como a pessoa que está prestes a se afogar e se agarra a uma palha, assim o meu arraigado otimismo, que desde então sempre me acomete justamente nas piores situações, se agarra a esse fato: nem é tão má a aparência dessa gente, eles estão visivelmente bem humorados e até rindo; quem diz que não chegarei também à situação relativamente boa e feliz desses prisioneiros? A psiquiatria conhece o quadro clínico da assim chamada ilusão de indulto: a pessoa condenada à morte, precisamente na hora de sua execução, começa a acreditar que ainda receberá o indulto justamente naquele último instante. Assim nós nos agarrávamos a esperanças e acreditávamos até o último instante que não seria nem poderia ser tão ruim. "Olha só o rosto rechonchudo e rosado desses prisioneiros!" Nem de longe sonhávamos que se tratava de uma "elite", um grupo de prisioneiros escolhido para receber os transportes dos milhares que, anos a fio, entravam diariamente pela estação de Auschwitz, isto é, para tomar conta de sua bagagem juntamente com os valores nela ocultos: utensílios difíceis de conseguir naquela época e jóias contrabandeadas. Auschwitz naquele tempo era, sem dúvida,um centro singular na Europa da última fase da guerra: a quantidade de ouro, prata, platina e brilhantes que ali se encontrava, não só nos gigantescos depósitos, mas ainda em mãos do pessoal da SS bem como do grupo de prisioneiros que nos recebia, certamente não tinha paralelo. Certa vez, éramos 1100 prisioneiros num único barracão (destinado a abrigar no máximo 200), esperando pelo transporte para campos menores, sentados, acocorados ou de pé, no chão de terra, passando frio e com fome. Não havia lugar para todos se sentarem, menos ainda para se deitarem. Num período de quatro dias recebemos uma única vez uma lasca de pão (de 150 gramas). Naquela ocasião presenciei, por exemplo, uma conversa em que o encarregado do barracão negociava um prendedor de gravata, de platina, encravado de brilhantes, com um prisioneiro daquele grupo de elite. O grosso desses objetos, entretanto, acabava sendo trocado por aguardente que desse para divertir-se uma noite. Só sei de uma coisa: esses prisioneiros de muitos anos precisavam de álcool. Quem vai censurar uma pessoa que se entorpece em semelhante situação interior e exterior? Para não falar dos prisioneiros postos a trabalhar nas câmaras de gás e no crematório, e que sabiam perfeitamente que, passando o seu turno, seriam substituídos por outro grupo, e que seguiriam eles mesmos um dia o caminho daquelas vítimas cujos carrascos eram forçados a ser agora. Esse grupo recebia álcool praticamente à vontade até do pessoal da SS.

A primeira seleção
Eu e praticamente todos os integrantes do nosso transporte estávamos, portanto, tomados por essa ilusão de indulto que acredita que tudo ainda pode sair bem. Pois ainda não tínhamos condições de entender a razão daquilo que ali se desenrolava; somente à noite é que iríamos entender. Mandaram-nos deixar toda a bagagem num vagão, desembarcar e formar uma fila de homens e outra de mulheres, para então desfilar perante um oficial superior da SS. Curiosamente, tive coragem de levar comigo minha sacola, escondida da melhor maneira possível debaixo da capa. Vejo, então, que a minha coluna se dirige, homem por homem, em direção ao oficial da SS. Fico calculando: se ele perceber o peso da sacola que me puxa para o lado haverá no mínimo uma bofetada que me fará voar na lama; isto eu já conhecia de outra ocasião. . . Mais por instinto, quanto mais me aproximo daquele homem, deixo meu corpo cada vez mais ereto, para que ele não perceba que estou carregando um peso. Ei-lo agora à minha frente: alto, esbelto, elegante, num uniforme perfeito e reluzente - uma pessoa bem trajada e cuidada, muito distante das nossas tristes figuras de rosto sonolento e aparência decaída. Ele se sente muito à vontade. Apóia o cotovelo direito na mão esquerda, e com a mão direita erguida executa um leve aceno com o indicador, ora para a direita, ora para a esquerda. Nenhum de nós tinha a menor idéia do significado sinistro daquele pequeno gesto com o dedo - ora para a esquerda, ora para a direita, com freqüência muito maior para a direita. Chega a minha vez. Alguém me sussurrou que para a direita (olhando da nossa direção) ia-se para o trabalho; para a esquerda, para um campo de doentes e incapacitados para o trabalho. Simplesmente deixo os fatos acontecerem. É a primeira vez que faço isso. Mas tomarei esta atitude muitas vezes de agora em diante. Minha sacola me puxa para a esquerda, mas me aprumo e fico ereto. O homem da SS me olha criticamente. Parece hesitar, põe as duas mãos nos meus ombros; faço um esforço para assumir uma postura do tipo militar. Fico firme e ereto: lentamente, ele faz girar os meus ombros - e lá me vou para a direita.
À noite ficamos sabendo o significado desse jogo com o dedo indicador: era a primeira seleção! A primeira decisão sobre ser ou não ser. Para a imensa maioria do nosso transporte, cerca de 90%, foi a sentença de morte. Ela foi levada a cabo em poucas horas. Quem era mandado para a esquerda marchava diretamente da rampa da estação para um dos prédios do crematório, onde - segundo me contaram pessoas que ali trabalhavam - havia letreiros em diversas línguas européias que caracterizavam o prédio como casa de banhos. Então todos os participantes do transporte mandados para a esquerda recebiam um pedaço de sabão marca "Rif". Sobre o que se desenrolava dali em diante posso calar-me, depois que relatos mais autênticos já o tornaram conhecido. Nós, a minoria do transporte, ficamos sabendo naquela mesma noite. Perguntei a companheiros que já estavam há mais tempo no campo de concentração onde poderia ter ido parar meu colega e amigo P. - "Ele foi mandado para o outro lado?" - "Sim", respondi. - "Então podes vê-lo ali", disseram. "Onde?" Uma mão aponta para uma chaminé distante algumas centenas de metros, da qual sobe assustadora e alta labareda pelo imenso e cinzento céu polonês, para se extinguir em tenebrosa nuvem de fumaça. "O que há ali?" - "Ali o teu amigo está voando para o céu", é a resposta grosseira. Continuo sem entender; mas logo começo a compreender, assim que me "iniciam" no assunto.
Tudo isto já contei por antecipação. Sob o ponto de vista psicológico, ainda tínhamos um caminho muito longo a percorrer, desde o alvorecer na estação até adormecermos pela primeira vez no campo de concentração. Nossa coluna foi obrigada correr desde a estação, escoltada por um pelotão da guarda SS com o fuzil engatilhado, passando pelos corredores de arame farpado carregado de alta tensão, até o banho de desinfecção - para nós, eleitos na primeira seleção, ao menos um banho real. Mais uma vez era alimentada a nossa ilusão de indulto: a SS até parecia muito afável! Mas logo percebemos que eram agradáveis conosco enquanto viam relógios em nossos pulsos, para, em tom muito cordial, nos persuadir a entregá-los, já que de qualquer forma teríamos que entregar tudo que ainda tínhamos conosco. Cada um de nós pensava consigo mesmo: perdido por perdido, se essa pessoa relativamente amigável receber o relógio em caráter particular - por que não? Quem sabe, um dia poderá prestar-me algum favor.

domingo, 28 de junho de 2009

TRIBUTO A MICHAEL JACKSON : PROVA DE QUE A ARTE TRANSCENDE....

REGINA BEZERRA CARVÃO

O ser humano está sempre a nos provar que a humanidade expressa em arte , transcende o físico, o mental, o psíquico.... vai muito alem do pessoal, liberta-nos de todo o tipo de prisão que possa nos ser imposta ....
É transpessoal !!!!
Prova disto ?
Assista o vídeo feito por 1500 presidiários das Filipinas em um Tributo a Michael Jackson(tiny.cc/mj957).


terça-feira, 23 de junho de 2009

TERAPIAS COMPLEMENTARES : MEDITAÇÃO E IMAGINAÇÃO ATIVA

REGINA BEZERRA CARVÃO


Proposições e Fundamentação Teórica

Proposta de estudo sobre a utilização da meditação e imaginação ativa como terapias complementares na recuperação e manutenção da saúde, através de análise a ser especificada na metodologia.
Estas práticas terapêuticas estão intimamente ligadas a Psicologia Transpessoal por fazerem parte da abordagem integrativa da Psicologia Transpessoal e por utilizarem-se de outros estados da consciência além da vigília .

Objetivos

OBJETIVO GERAL : Estabelecer o ponto de confluência entre meditação e visualização ativa e os tratamentos médicos convencionais, utilizando como centro emblemático deste estudo pesquisas legitimadas em publicações científicas que demonstrem a eficácia destas três terapias na manutenção e recuperação da saúde.

OBJETIVO ESPECÍFICO : Demonstrar que estas terapias são complementares e não alternativas aos processos terapêuticos da medicina convencional. Neste momento distinguir o alternativo do complementar e mostrar o resultado desta distinção.

Metodologia

Propõe-se um estudo descritivo de conceitos e significados : Meditação e Imaginação Ativa, no contexto da recuperação e manutenção da saúde.
Este estudo se utilizará de levantamento bibliográfico de pesquisas legitimadas por publicações científicas que abordem o tema e contemplará especialmente as similaridades, transposições, ligações, relações e complementaridades que apontem resultados satisfatórios na condução destas três práticas terapêuticas.

Meditação e Imaginação Ativa na Psicologia Transpessoal

Todos os recursos transpessoais aplicados à educação, à clínica, à instituição e a outros contextos que tenham por base os postulados teóricos da Psicologia transpessoal favorecem o equilíbrio de todos os níveis, os níveis comuns de pensar, agir e sentir, e os níveis superiores de pensar, agir e sentir que acontecem de forma elevada, superior, sábia, a nível do supraconsciente “sob a referência da psicologia transpessoal supraconsciente indica uma dimensão superior do inconsciente, com conteúdos positivos, construtivos”.....(Vera Saldanha p. 150)

A Abordagem Integrativa transpessoal trabalha a integração do ser utilizando-se da:

Intervenção Verbal – Este nível representa toda gama de verbalizações, as quais facilitam o estabelecimento de vínculos. Trata-se de uma forma na qual se propicia a presença do eixo experiencial, por meio da razão, emoção, sensação e intuição, e que irá facilitar a manifestação do eixo evolutivo, por intermédio da ordem mental superior, que representa simbolicamente, o aprendiz interno, o eu superior, o seu núcleo saudável e de equilíbrio.
Atua no nível intuitivo e nos níveis mental e emocional.

Imaginação Ativa – Trata-se de uma possibilidade do inconsciente de desenvolver imagens mentais, aparentemente aleatórias, mas que estão sendo criadas e contornadas pelas motivações mais profundas dos diferentes níveis do próprio indivíduo.
Nesta fase, potencializam-se aspectos da consciência de vigília,atualiza-se uma percepção mais ampla da realidade e estimula-se a presença da ordem mental superior.
Atua no nível intuitivo e nos níveis etérico e físico.

Reorganização Simbólica – Esta dinâmica facilita a organização de determinados conteúdos, numa sequência lógica e adequada, seja no aspecto psíquico, temporal ou espacial.
Envolve a imaginação, mas vai além, incluindo : clarificar e organizar metas; organizar os aspectos de direcionamento do psiquismo; favorecer o indivíduo na execução de metas, dando vida às imagens mentais, acionando a intuição e os processos psíquicos inconscientes, os quais transformam esses desejos em realidade, por meio das atitudes no cotidiano.
Atua nos níveis intuitivo e nos níveis mental e emocional.

Dinâmica Interativa – Aqui faz-se um trabalho profundo e significativo, realizado com os conteúdos psíquicos, por meio de sete etapas específicas, as quais são favorecidas na abordagem integrativa transpessoal. Estas etapas são denominadas :

Reconhecimento – um olhar ao redor... ( níveis etérico e físico )

Identificação–são as sensações físicas, sentimentos, pensamentos vivenciados pelo indivíduo a partir do olhar ao redor ( níveis mental e emocional )

Desidentificação – é o discernimento crítico, a análise, a reflexão...( níveis mental e emocional )

Transmutação – quando o conhecimento adquire significados pessoais ( nível intuitivo – ações superiores, sentimentos superiores, pensamentos superiores )

Transformação – a experiência pessoal e a individualidade criadora somadas às vivências das etapas anteriores, transformam-se em um novo conhecimento ( nível intuitivo – ações superiores, sentimentos superiores, pensamentos superiores )

Elaboração – Vem da própria transformação com os “insights” da nova aquisição, através do entendimento global do conhecimento, da situação e das possibilidades que promove o novo ( intuitivo – ações superiores, sentimentos superiores, pensamentos superiores )

Integração – união do conhecimento na vida pessoal, profissional e cotidiana inserindo-se no TODO DO SER ( nível intuitivo – ações superiores, sentimentos superiores, pensamentos superiores ; níveis etérico e físico )

Recursos Auxiliares ou Adjuntos – Dentre estes recursos contemplamos a Oração e a Meditação porque revestem-se de uma importância cada vez maior, facilitam a atualização de níveis de expansão da consciência, especialmente do supraconsciente ( uma dimensão superior do inconsciente, com conteúdos positivos e construtivos); rebaixam o nível de tensão e a ansiedade; promovem uma clareza mental maior e receptividade ao novo, equilibram a produção de hormônios, harmonizam o metabolismo e aumentam as defesas imunológicas.
Atua nos níveis intuitivo,etérico e físico.

Distinção entre Terapia Alternativa e Terapia Complementar

De acordo com o NCCAM- National Center of Complementary and Alternative Medicine (2002), órgão participante do NIH- National Institutes of Health dos Estados Unidos, as terapias complementares e alternativas são um grupo de sistemas médicos e de cuidados à saúde, práticas e produtos que não são considerados parte da medicina convencional.
Há muitas evidências científicas sobre os efeitos das medicinas alternativas e complementares, mas ainda há questões chave a serem respondidas por estudos científicos bem delineados.
Ainda de acordo com o mesmo centro, o termo complementar, significa que a prática é utilizada com a medicina convencional. O termo alternativa significa que a prática é utilizada no lugar da medicina convencional. Portanto, há questões éticas bastante sérias a serem consideradas quando se fala em terapia alternativa, pois pressupõe-se que ela substitui a medicina convencional.
Já o termo complementar e/ou integrativa significa que a prática combina a terapia médica convencional com métodos complementares, para os quais há alguma evidência científica de alta qualidade quanto à segurança e efetividade.

Terapias Complementares no Brasil

Instituições brasileiras têm realizado pesquisas sobre os efeitos das terapias complementares como a meditação e a imaginação ativa.
A UNIFESP organizou em 2008 o l Simpósio Internacional de Medicinas Tradicionais e Práticas Contemplativas, um importante marco para a discussão sobre essas práticas entre profissionais e pesquisadores das áreas de saúde, qualidade de vida e bem-estar.
Recentemente o jornal Folha de São Paulo publicou uma inusitada fotografia do que até pouco tempo atrás seria quase improvável : uma foto de uma mulher em tratamento oncológico, em um importante hospital privado da cidade São Paulo recebendo instruções de meditação.
Portanto, não é mais possível ignorar ou simplesmente discordar da utilização de práticas das Terapias Complementares ou Integrativas. Há sim necessidade de divulgação de pesquisas dessas terapias para que se avalie sua eficácia, compreenda-se os mecanismos de ação de seus tratamentos, uma vez que a população tem se utilizado das mesmas há muito tempo.
O fato é que muitas pessoas buscam novas possibilidades de tratamento, pelas dificuldades de conseguir um atendimento pela medicina convencional, ou por estar insatisfeito pela maneira como caminham os cuidados com sua saúde, ou simplesmente por acreditar que as práticas complementares podem trazer melhor qualidade de vida para o que já recebem dentro do tratamento convencional.
A resposta a este crescente interesse talvez esteja na própria Organização Mundial da Saúde (OMS) que vem estimulando o uso da Medicina Tradicional e das Terapias Complementares nos Sistemas de Saúde de forma integrada às técnicas da medicina convencional em seu documento “Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional 2002-2005” que preconiza o desenvolvimento de políticas observando os requisitos de segurança, eficácia, qualidade, uso racional e acesso.
No Brasil, em 2006, o SUS através da portaria SAS 853 criou o atendimento de práticas integrativas e complementares e neste mesmo ano o Ministro da Saúde publicou uma portaria que institui a PNPIC (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares), ou seja, a política pública oficial do Governo Federal para instalar atendimento em terapias complementares em todas as unidades de saúde no Brasil.
O governo espera ter atendimentos complementares em mais de 80% das unidades do SUS por volta de 2012. Ao mesmo tempo o Ministério da Saúde recomenda que essas terapias complementares sejam incluídas nos currículos universitários das áreas da saúde e que se façam concursos públicos para contratação de profissionais capacitados nessas áreas que possam prestar os serviços desejados.
O Número de municípios que já oferece atendimento em terapias complementares no Brasil é muito pequeno (cerca de 5% do total). Alguns pontos ainda não estão completamente esclarecidos, como por exemplo, qual deve ser a formação básica de cada um desses profissionais e qual deve ser o currículo e a carga horária para ser um especialista. Há ainda um conflito corporativo entre os conselhos de várias profissões da saúde para determinar quais profissionais estão autorizados a praticá-las.
Enquanto isso não fica esclarecido, cada prefeitura usa um critério próprio para escolher seus profissionais, não é a situação ideal, mas sem dúvida significou um grande passo para as terapias complementares e sua maior popularização no país.
A Secretaria Municipal de Saúde de Saúde de Campinas / SP foi uma das pioneiras ao disponibilizar, na sua rede de Centros de Saúde, por meio da Área de Saúde Integrativa, atendimentos de diversas terapias complementares incluindo a meditação .

Meditação e Imaginação Ativa

A meditação e a Imaginação Ativa não pertencem a nenhum caminho, nem religião, fazem parte de nossa natureza humana, são espontâneas e fáceis e são um estado natural como dormir.
Geralmente, em nossas atividades diárias quando temos algum tipo de concentração, é como se meditássemos no que estamos fazendo. A diferença de meditar de olhos fechados é focar a atenção no interior em vez de se focar na ação e de acordo com o Professor Paulo de Tarso Lima “ ao focarmos nossa atenção no momento presente, não há riscos porque não há futuro.”
Não importa o tipo da meditação, seja de que orientação for , independente de origem e religião, os resultados de práticas meditativas legitimados pela pesquisa científica têm-se apresentado sempre benéfico a seus praticantes.
A meditação e a Imaginação Ativa nos conduzem a um estado parecido com o estado do sono, ficamos conscientes, despertos, com a mente alerta, mas em estado de repouso. Com a prática da Meditação e da Imaginação Ativa, deslizamos para um espaço interior tranqüilo, onde relaxamos e entramos em contato com a fonte interior, o Ser interior,
A Meditação e a Imaginação Ativa são pacificadoras porque sua prática regular apaga as tensões e nos dá mais habilidade para enfrentar os desafios, a prevenir doenças, eliminar insônia e a inquietude da mente.
A prática da Meditação e a prática da Imaginação Ativa reduzem o metabolismo – os batimentos cardíacos e a respiração ficam mais lentos e diminui o consumo de oxigênio pelas células alcançando uma sensação de relaxamento e tranquilidade .
O termo “meditação” abrange numerosas tradições culturais e vários métodos de concentração mental, através do controle da respiração, visualizações, imaginação ativa, ou pelo contrário, a não focalização da mente em objetos ou idéias.

Meditação:
Muitas pessoas fazem algumas tentativas para meditar e acham difícil, porque pensam que precisam parar a mente ou porque pensam que logo vão mergulhar em estados de paz celestial e vazio da mente.
A escritura indiana Bhagavad Gita, diz que “ a mente é mais forte do que um vento e como ninguém pode parar o vento, apenas observá-lo, senti-lo e deixá-lo fluir, assim também devemos proceder com a nossa mente durante a meditação.”
A chave da meditação é observar a mente, observar os pensamentos, sem se preocupar com eles, sem lutar contra eles. O primeiro passo para a meditação é parar o corpo, silenciar a atividade física, aquietar a mente, ou pelo menos reduzir seus ruídos interiores.
Ao longo da história, a pratica da meditação tem objetivado a redução das tensões negativas nos planos conscientes e subconscientes, assim como facilitar a integração do indivíduo em seu ambiente físico, social e psicológico.

Imaginação Ativa

A imaginação ativa é a capacidade de “ver” na sua tela mental uma cena, ou de elaborar um cenário a partir dos sentidos internos. Como os sentidos geralmente estão mais focados no mundo externo, para focá-los internamente muitos precisam de uma ajuda externa, ou seja, uma pessoa ou um roteiro que conduza esta prática .
Durante a Imaginação Ativa quanto mais específico e mais detalhado for a descrição do cenário, movimentos, cores, formas, aromas, gostos, texturas, ruídos, pessoas, maior será a capacidade de alcançar o objetivo de ativar os sentidos internos .
Na Imaginação Ativa é o nível de detalhes que vai fazer com que o indivíduo domine seus movimentos e encontre mais facilidade em construir e visualizar todas as imagens sugeridas e solicitadas pelo condutor da prática .
Como resultado desta prática alcançamos o relaxamento, que tem a função de proporcionar a sensação de bem estar ao indivíduo, além de possibilitar a obtenção, mesmo que só através de imagens, daquilo que ele deseja e/ou precisa naquele momento.
Ao colocarmos nossa atenção no mundo interno, seja pelo método da Meditação como pelo método da Imaginação Ativa estamos nos programando para as modificações que vão nos aproximar de nossos objetivos, a curto prazo ou a longo prazo, porque hoje sabemos que o cérebro usa sempre o mesmo “caminho neuronal” que entra nos hábitos de raciocínio e comportamento.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O QUE É TRANSPESSOAL ?

VERA SALDANHA
DOUTORA EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL - UNICAMP - CAMPINAS - SÃO PAULO - BRASIL
PRESIDENTE DA ALUBRAT - ASSOCIAÇÃO LUSO BRASILEIRA DE TRANSPESSOAL

Transpessoal caracteriza-se por ser uma experiência que segundo Walsh e Vaughan, pode definir-se como “aquela e em que o senso de identidade ou do eu ultrapassa (trans + passar = ir além) o individual e o pessoal a fim de abarcar aspectos da humanidade, da vida, da psique e do cosmo” (Walsh; Vaughan, 1997, p. 17).
A Psicologia Transpessoal pode ser entendida como estudos e práticas psicológicas destas experiências na saúde, educação, organizações, instituições, incluído não só sua natureza, variedades, causas e efeitos, seu desenvolvimento, bem como a sua manifestação na filosofia, arte, cultura, educação, religiões.
Em relação às disciplinas, por exemplo, a Psiquiatria Transpessoal concentra-se no estudo das experiências e fenômenos Transpessoais, enfocando, particularmente, seus aspectos clínicos e biomédicos. Na Antropologia Transpessoal refere-se ao estudo transcultural da experiência de ir além do eu pessoal e da relação entre a consciência e a cultura, enquanto que a Sociologia Transpessoal estuda as dimensões e expressões sociais desses fenômenos e a Ecologia Transpessoal aborda as repercussões e aplicações ecológicas dos mesmos.
É importante observar, todavia, que essas definições não determinam e não excluem o pessoal, também não invalidam, enquadram-no dentro de um contexto mais amplo, o qual reconhece a importância de ambas as experiências pessoais e transpessoais; também não prendem as disciplinas transpessoais a nenhuma filosofia, religião ou visão específica do mundo nem restringem a pesquisa a um determinado método (WALSH; VAUGHAN, 1997, p. 17).
O termo “Transpessoal” foi referendado, pela primeira vez na área da Psicologia, por Carl Gustav Jung, utilizando as palavras überpersönlich, em 1917, que significam suprapessoa e suprapessoal, respectivamente.
Uma definição dada por Pierre Weil é a de Psicologia Transpessoal como:
Um ramo da Psicologia especializada no estudo dos estados de consciência que lida mais especificamente com a “Experiência Cósmica” ou estados ditos “Superiores” ou “Ampliados” da consciência. Estes estados de consciência consistem na entrada numa dimensão fora do espaço-tempo tal como costuma ser percebida pelos nossos cinco sentidos. É uma ampliação da consciência comum com visão direta de uma realidade que se aproxima muito dos conceitos de física moderna (WEIL, 1999, p. 9).
Assim definimos a Psicologia Transpessoal como o estudo, pesquisa e aplicação dos diferentes estados de consciência em direção a Unidade do Ser. Sua área de atuação dá-se em todos os campos do conhecimento que tem como base a Psicologia (SALDANHA, 2008).
Observamos atualmente uma necessidade crescente de um enfoque psicológico que contemple a dimensão espiritual, ética e valores construtivos, positivos. A própria inserção na Psiquiatria da Categoria de “Problemas Religiosos e Espirituais” como pertinentes as necessidades psíquicas, faz com que a Psicologia Transpessoal torne-se cada vez mais necessária como um embasamento teórico, que nos proporciona recursos e cuidados para lidar com suavidade e profundidade em uma dimensão psico-espiritual do individuo. Mas isto não acontece somente no espaço clinico, também nas organizações, berço onde Maslow evidenciou as metanecessidades do Ser humano, além da auto-realização, estima, amor e segurança.
Nesta caminhada de autoconhecimento, a importância do contato com uma dimensão superior da psique, nossa dimensão saudável, é naturalmente ética.
Além disso, também na educação a abrangência da Didática Transpessoal (SALDANHA, 2008) nos permite um manancial de instrumentos na prática pedagógica, uma compreensão da relação educador-educando, bem como um entendimento maior da metacognição, motivação e aprendizagem.
Assim sem dúvida alguma a abordagem Transpessoal revela um olhar contemporâneo necessário à nossa Psicologia no momento atual.
A Alubrat surge no Brasil, trazendo a primeira pós-graduação lato-sensu em Psicologia Transpessoal e também como uma das instituições pioneiras no âmbito internacional com caráter mais cunhado pela pesquisa e embasamento teórico-prático das vivencias Transpessoais.
Seu nascedouro ocorreu justamente nos cursos de Psicologia Transpessoal. Veio com a missão de propagar no âmbito acadêmico essa vertente, legitimando a espiritualidade como aspecto inerente a natureza biológica do ser, algo desejável, curativo, saudável, e que pode nos adoecer quando ignorado ou reprimido. Isto pode ocorrer, não só no plano pessoal, como também no social e cultural.
Um axioma fundamental na abordagem de orientação Transpessoal é a espiritualidade no Ser humano.
Outros aspectos que se destacam neste enfoque é uma ampliação da cartografia da consciência incluindo experiências antes do nascimento, após a morte física, e de uma dimensão superior da consciência.
A Psicologia Transpessoal evidencia o trabalho por meio dos diferentes estados de consciência, a imortalidade da consciência, e o conceito de unidade como a grande Tônica Transpessoal.
Todo e qualquer legitimo trabalho Transpessoal, necessariamente percorre estes aspectos em sua suas vivências.Neste sentindo podemos dizer que há uma perspectiva comum que as unificam.Entretanto ocorrem distintas leituras metodológicas, e especialmente no Brasil, podemos citar a Alubrat com a Abordagem Integrativa Transpessoal, (Vera Saldanha); o trabalho de Jean-Yves Leloup, fundado na Meditação do Coração e na Tradição Hesicaste; o Cosmodrama de Pierre Weil tendo como fonte o Psicodrama; o trabalho de Leo Matos baseado na Psicologia Tibetana; a Dinâmica Energético do Psiquismo de Theda Basso e de Aidda Pustilnik que tem como fonte a Barbara Ann Brennan; o trabalho de Gislane D’Assumpção em Tanatologia a Respiração Holotrópica com base em Stanislav Grof. Outros trabalhos também são desenvolvidos, alguns mais ligados à filosofia espírita, outros ao enfoque de Roberto Assagioli ou de Ken Wilber; enfim, hoje temos muitos grupos que embora diversificados em sua metodologia tem uma vertente comum: o despertar da Consciência.
Penso que um grande Congresso Brasileiro que reunisse estes distintos grupos seria uma imensa contribuição para o movimento Transpessoal, o qual consolidaria a sua unidade na diversidade.
Fica a sugestão!

Referências:
SALDANHA, Vera. Psicologia Transpessoal: Abordagem Integrativa Um Conhecimento Emergente em Psicologia da Consciência. Ijuí: Unijui, 2008.
WALSH, Roger; VAUGHAN, Frances. Além do Ego: Dimensões Transpessoais em Psicologia. São Paulo: Cultrix, 1997.
WEIL, Pierre. Lágrimas de Compaixão: e a Revolução Silenciosa Continua. São Paulo: Pensamento, 1999.

Vera Peceguini Saldanha
*Psicóloga;
*Presidente da Associação Luso Brasileira de Transpessoal (ALUBRAT) como sede no Brasil e Portugal;
*Doutora em Psicologia Transpessoal (FE Unicamp);
*Autora do livro: Psicologia Transpessoal: Um Conhecimento Emergente de Consciência, Ed. Unijui;
*Autora do livro: A Psicoterapia Transpessoal, Ed. Rosa dos Tempos – 2ª edição;
*Ministra cursos e conferências na área de Psicologia Transpessoal em diversos estados do Brasil e exterior desde 1985.

domingo, 7 de junho de 2009

TRADUZIR -SE

FERREIRA GULLAR


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?


De Na Vertigem do Dia (1975-1980)

sábado, 6 de junho de 2009

ENEAGRAMA

REGINA BEZERRA CARVÃO


Meu tipo no Eneagrama e a relação com o momento atual.

O tipo 7 do Eneagrama é o que melhor me representa no momento, sua descrição ajuda-me a uma melhor análise e entendimento pessoal.
Ao aplicar o questionário a minha pontuação oscilou de 3 a 14 pontos distribuindo-se da seguinte forma :


Tipo Eneagrama === Pontuação obtida
1================= 7
2================= 9
3================= 6
4================= 4
5================= 3
6================= 6
7=================14
8================= 7
9================= 4

Conhecendo o tipo 7 identifiquei em mim, em primeiro lugar o medo de perder a liberdade e em segundo lugar a procura incessante pelo prazer representado pela novidade.
Nos momentos de dificuldades e sofrimentos o que mais se mostra em mim é o medo da profundidade porque promove o enfrentamento com a dor, em decorrência segue-se um sentimento de ansiedade e uma fuga para o mundo exterior.
Este medo da profundidade pode ser melhor compreendido ao analisar meus tipos vizinhos - ou eneatipos em movimento - ou alas.
Os meus são os tipos 6 e 8. Nos subtipos de autoconservação encontro o 6 em mim quando sou acometida por sentimentos de profunda desconfiança e o 8 quando me toma conta o sentimento perfeccionista que pensa que tudo tem que funcionar perfeitamente.
Quanto aos tipos vizinhos que relativizam minha dor trazendo-me conforto, encontro no tipo 6 calma, serenidade e confiança e no tipo 8 maior sociabilidade, ternura e proteção.
No momento identifico uma maior aproximação dos tipos que relativizam minha dor porque sinto uma maior capacidade de confiar, observo-me mais contida, recolhida e sentindo que minha contribuição, mesmo que pequena, é importante para o todo. Procuro estar próxima de pessoas que pensam como eu, estou determinada a fazer a minha parte, dar minha contribuição a uma causa, e ser responsável pela conservação de tudo o que me cerca.
Se fossemos procurar resquíscios de alguma patologia nos diversos tipos que compõem o eneagrama, o tipo 7 seria caracterizado como : Transtorno de Personalidade Narcisista.
Seu pecado principal seria : Hedonismo
Seu defeito principal : Gula
Sua virtude principal : Temperança e Equilíbrio ( o que devo perseguir )
Seu eixo : Planejador e realizador inúmeras idéias e atividades para evitar o sentimento.
Seu mantra : Não serei abandonado
Seu pensamento infantil : Sofro com as limitações deste mundo constrangedor ( = limitado ).
Seu floral : Heather, Honeysuckle, Clematis, Cerato, Agrimony.  

O que mais me fascinou no exercício do eneagrama foi constatar a mudança que me aconteceu nestes últimos 5 anos.
Exatamente em 2004 minha terapêuta aplicou-me este mesmo questionário e o tipo que melhor representava meu momento naquela época era o tipo 1, e agora encontro como minha melhor representação atual o tipo 7.
O tipo 7 é justamente o que relativiza a dor e o comportamento do tipo 1.
É o tipo 7 que ajuda a harmonizar e experimentar um equilíbrio temporário que chamamos de consolo verdadeiro aos que se representam pelo tipo 1.
“O tipo 1 concentrado e controlado aprende com o tipo 7 a se soltar, ser alegre, festejar e não fazer caso das coisas. O tipo 1 redimido continua trabalhando duro, mas encontra com certa facilidade a paz interior; é capaz de aceitar que está a caminho e não no objetivo.” in Eneagrama, Apostila Alubrat, Docente Professor Luiz Carlos Garcia.
Já aceitando que trilho o Caminho e não estou mais só no objetivo, e que este caminho a partir de agora é o percurso que deverei fazer do tipo 7 para o tipo 5, concluo que a lição que devo aprender a partir deste novo caminhar será : “Parar de reprimir o sofrimento e confiar. Tornar-me mais recolhido e sóbrio. Aprender a ter responsabilidade pela conservação do mundo.” in Eneagrama, Apostila Alubrat, Luiz Carlos Garcia.

sábado, 9 de maio de 2009

COMPROMISSO COM O ALUNO : QUEM É ELE ? COMO VIVE ? O QUE PENSA ? COMO PODE APRENDER MAIS E MELHOR?


REGINA BEZERRA CARVÃO

O professor / tutor ao definir e selecionar mídias e tecnologias na EAD deve estar principalmente compromissado em descobrir quem é seu aluno, como ele vive, o que ele pensa, como ele está aceitando, apreendendo , se apropriando e usando o conhecimento construído.

Para esta descoberta é fundamental o uso do tom dialogal com a preocupação de envolver o aluno na mesma convivência construtiva. Entenda-se por diálogo “troca ou discussão de idéias, de opiniões, de conceitos, com vista à solução de problemas, ao entendimento ou à harmonia; comunicação” Aurélio Buarque de Holanda Ferreira in Novo Dicionário Aurélio , e não apenas “usar o recurso de escrever um parágrafo inteiro e lá no finalzinho colocar uma pergunta do tipo: Vamos em frente? Certo? Concorda?” Márcia Leite e Maria Cristina Baeta Neves in Mídia Escrita.

Quando se pensa em mídias e tecnologias é essencial também se pensar em novas metodologias. A exemplo da alfabetização que se faz utilizando a escrita, seria muito interessante que também a educação para mídias e tecnologias se fizesse utilizando-se de mídias e tecnologias.

Com uma caneta ou com um mouse ” Juliane Corrêa in Mídias e Tecnologias da Informação na Educação , com texto impresso ou com e-book , as mídias e tecnologias na educação podem contribuir para que se desenvolva a capacidade criativa dos alunos, motivando-os a se apropriar das mensagens, transforma-las, interferir no seu conteúdo e produzir colaborativamente novos conceitos e formas, descobrindo-se então criadores.


A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO MUNDO, A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E A GLOBALIZAÇÃO

RE


 REGINA BEZERRA CARVÃO

 No ensino a distância a comunicação entre o professor e o aluno pode se realizar através de textos impressos, meios eletrônicos, mecânico ou outras técnicas ...(MOORE) , trata-se pois de um processo de ensino-aprendizagem que requer todas as condições gerais dos sistemas de instrução : planejamento prévio , orientação do processo , avaliação e retroalimentação ...(SARRAMONA)  . Abrange as formas de estudo que não são dirigidas e/ou controladas pela presença do professor na aula ...(ZAMORA) de tal modo que qualquer pessoa independentemente de tempo e espaço , possa converter-se em sujeito protagonista de sua própria aprendizagem ...(MARTINEZ) pela ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos e o apoio de uma organização tutorial ... (GARCIA ARETIO)  .O ensino/educação a distância é um método de distribuir conhecimentos , habilidades e atitudes ...(OTTO PETERS)."



PANORAMA DA EAD NO MUNDO ATUAL



É neste contexto que a EAD desempenha um papel de fundamental importância ao apropriar-se das novas tecnologias disponíveis e aplicá-las na educação, compartilhando o conhecimento através de um processo interativo baseado na estreita cooperação entre tutores e cursistas. Este compartilhamento do saber possibilita a maior democratização da informação que é o maior bem destes nossos novos tempos.

As políticas educacionais públicas, ao privilegiarem os bons projetos de EAD além de fazerem educação a um custo menor do que em cursos presenciais, estarão criando oportunidades para milhões de pessoas terem acesso a novas oportunidades de aprendizagem, seja para os desempregados estruturais cujas funções foram substituídas por novas tecnologias, para os jovens que sequer estão inseridos no mercado de trabalho, ou ainda para os empregados manterem seus empregos através de constante atualização.

Bons projetos de EAD são aqueles que fazem antes de tudo educação com qualidade e constante avaliação do produto e do processo, que não fazem apenas a transposição do conteúdo de um curso presencial para um curso de EAD, que sabem que tanto a EAD quanto a Educação Presencial são processos educativos, qualificam o conhecimento do grupo e sabem principalmente que o conteúdo importa muito mais do que a tecnologia.

As tecnologias da informação e da comunicação se convertem em tecnologias educativas na medida em que são utilizadas como estratégias de ensino aprendizagem, e não como meros recursos de demonstração” Juliane Corrêa in Sociedade da informação globalização e educação a distância. Observamos que esta afirmativa é inteiramente procedente, ao assistirmos a programação nacional e/ou internacional de televisão a cabo, que embora conte com produção impecável, apresentação e conteúdos excelentes, sempre deixa a sensação de que muito pouco ficou para reflexão e aprofundamento das questões ali tratadas.

Esta sensação “de que muito pouco ficou“ é justamente porque a proposta desta tecnologia , (no caso a programação da televisão a cabo), apesar de ter muita informação e comunicação de qualidade é na essência entretenimento e/ou mero recurso de demonstração.

São necessárias estratégias de ensino aprendizagem para que esta tecnologia, e todas as outras existentes, se transmutem em tecnologias educativas.

A possibilidade desta transmutação existe, todos os diversos meios poderão se tornar tecnologias educativas, desde que acompanhados de uma proposta pedagógica e de professores especializados, criativos e competentes em compartilhar o saber e motivar os alunos a serem receptores críticos, professores que façam a ponte entre os alunos e o conhecimento, entre alunos e alunos, facilitando desta forma a “construção coletiva, colaborativa e cooperativa”. Sandra Rodrigues da S. Dias in Fórum 5 –PÓS EAD0206 – SENAC/RIO

A proposta pedagógica da EAD também renova a educação presencial ao introduzir disciplinas não presenciais ao currículo do ensino superior (portaria 2253 / 2001), ao trazer novas concepções de pesquisas e principalmente a quebra do mito de que alunos não gostam de ler e escrever. Esta quebra se verifica no momento em que favorecemos o acesso a internet e os vemos totalmente absorvidos na leitura e escrita, proporcionados por esta conexão.

Entre 2001 e 2005 a oferta em EAD mais do que triplicou, este acréscimo é provavelmente uma resposta a um atendimento competente. Respostas competentes sempre geram novas demandas.

Segundo o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância" www.abraead.com.br/anuário)  das 166 instituições brasileiras  de EAD pesquisadas 24% são  públicas.

Como 76% das instituições de EAD em funcionamento são particulares, embora a maioria seja sem fins lucrativos, constatamos que, temos ainda uma grande demanda reprimida.

Decididamente não é fácil fazer EAD, mas é fundamental que se enfrente este desafio, através da construção de políticas públicas que universalize seu acesso, sem perdas de suas qualidades fundamentais.



A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E A EAD

O decreto 5622 legitima a EAD  colocando-a no mesmo nível da educação presencial ao contemplá-la com os mesmos direitos e deveres. Esperamos que não haja retrocesso e que o resultado deste trabalho intenso de valorização e reconhecimento da EAD seja inteiramente respeitado. Quanto às avaliações presenciais, tão polemizadas, concordo com a necessidade de que elas sejam mesmo presenciais, até que a legitimação desta modalidade de educação não deixe mais dúvidas quanto sua assertividade e qualidade.

A GLOBALIZAÇÃO

Tomando a igreja católica como exemplo, observamos que a globalização é praticada há séculos, elas têm o mesmo ritual,de norte a sul do planeta.

No Brasil colônia, já explorávamos e cultivávamos aqui, o que seria manufaturado na Europa, portanto a diferença principal entre o que se nomeia hoje globalização e o que se praticava há séculos é a questão da “economia centralizada na mesma unidade de tempo real“ que Manuel Castell in Sociedades em rede, tão bem define como sendo “ as atividades econômicas centrais, nucleares de nossas economias que trabalham como uma unidade em tempo real, a nível planetário através de uma rede de conexões”.

Esta rede “corresponde a uma forma de divisão transnacional do trabalho que implica na distribuição de tarefas e funções entre as nações, ampliando sua ação do nível nacional para o global, utilizando-se das novas tecnologias da informação e comunicação”. Juliane Corrêa in Sociedade da informação, globalização e educação a distância.

Concluindo, retorno ao início deste texto, reafirmando o que penso ser a principal missão da EAD: ” apropriar-se das novas tecnologias disponíveis e aplicá-las na educação, compartilhando o conhecimento através de um processo interativo, baseado na estreita cooperação entre tutores e cursistas, possibilitando assim a maior democratização da informação - maior bem destes nossos novos tempos”.